Esta postagem é a estréia efetiva deste blog. A escolha do tema não foi de "caso pensado", mas surgiu do temor ocasionado pela notícia de que há real possibilidade de que ocorra plebiscito a fim de decidir sobre a diminuição da maioridade penal, atualmente de 18 (dezoito anos), no Brasil.
O Medo.
A sociedade está com medo. Todos estamos aterrorizados com esta violência que a cada dia cresce mais. Quem, sinceramente, em nosso país conhece alguém que ainda não foi vítima de assalto ou mesmo de coisa pior?
É difícil. É difícil todo dia ter que ver o filho ir para a escola e não saber se ele irá voltar. É difícil sair cedo para trabalhar e não saber se irá chegar à parada de ônibus, ao escritório ou mesmo retornar para casa ileso.
É difícil. É difícil ter que escutar de dois em dois anos que a saúde, a educação e a segurança irão melhorar e o cotidiano nos mostrar que não é verdade. É difícil olhar todos os dias, em jornais ou na televisão, notícias de sangue e... mais sangue.
De quem é a culpa? É a pergunta que mexe. De quem é a culpa? É a dúvida que persegue.
É nossa!
Nossa?
É, nossa.
Estamos agindo iguais a animais irracionais acuados em frente ao perigo.
Como assim?
Percebemos que a segurança pública é insuficiente, que o Estado nos esqueceu, que a mídia não nos mostra uma esperança. O que fazemos? Repelimos o perigo à força, à bala se for preciso. Não reivindicamos racionalmente por melhorias. Agimos com a águia que acreditava ser galinha por ter sido criada com essas. Desconhecemos, ou melhor, esquecemo-nos de nossa força.
E o meu vizinho, meu compatriota... o outro?
Não temos tempo, não temos nem mesmo como pensar no outro, afinal nós mal conseguimos manter-nos seguros nesse mundo. O outro só será considerado quando nossa barriga estiver cheia.
É egoísmo? Não, é instinto de sobrevivência, puro estado de necessidade.
Entretanto, esse ”instinto de sobrevivência” termina nos matando. Termina por fazer que enxerguemos o mundo de forma míope, pois passamos a aceitar tão rapidamente o que “nos dizem ser” a solução para problema que esquecemos de raciocinar e analisar se de fato a sugestão era saudável, era moral, era correta, era devida... era necessária. Seria como se estivéssemos com fortes dores de estômago e tomássemos o primeiro remédio que encontrássemos, sem antes ter consultado um médico.
Um grave efeito dessas atitudes sem reflexão, instintivas, é o esquecimento do princípio da presunção de inocência, sendo que tal consequência é até mesmo natural frente ao que observamos – ou somos feitos observar, muitas vezes de forma deturpada - no nosso cotidiano, pois se estamos com medo, acuados, qual é o pensamento? Condenar a qualquer custo. Somente há justiça na condenação. Direito de defesa para quê? Na dúvida, melhor prender ou condenar, pois as ruas já estão cheias de bandidos! Se for inocente, ele que prove!
Mas o que acontece quando damos efetividade para esses pensamentos e esquecemo-nos de lutar por direitos conquistados mediante demasiado sofrimento?
Tornamo-nos reféns de nós mesmos, pois quando estivermos – ou alguém de nossa família, ou amigo, ou alguém por quem tenhamos afeição- na mesma circunstância iremos sofrer as mesmas consequências. É um ciclo de tempestade que não gerará bonança. Afinal, como exigir do outro algo que não faço?
A nossa omissão não nos dará trigo, mas joio.
Estamos aptos a votar neste possível plebiscito? Sobre essa questão que nem durante a ditadura foi concretizada?
Isto mesmo, nem no momento em que nossos direitos foram jogados na latrina do esquecimento – notadamente a liberdade- houve tão forte apelo ao vergastado tema.
Que a resposta fique na consciência de cada um, fomentando a reflexão e, Deus queira, um agir de mente arejada e convicta para o melhor da nação.
Lucas Sá Souza.
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